DELÍRIO TROPICAL
ORLANDO MANESCHY
Curador
KEYLA SOBRAL
Curadora adjunta
Tentar traduzir um país por suas imagens pode parecer grandioso ou até mesmo impossível diante da multiplicidade de experiências de mundo e dos variados modos de olhar; mas aqui reunimos um vasto legado visual que constitui um recorte de tempos distintos, atravessados por perspectivas singulares de fotógrafos que criaram a partir de suas experiências de vida. De cenas por vezes emblemáticas, registradas no imaginário nacional, a outras, ainda pouco apreciadas pelo grande público, visibilizamos expressões singulares de pensar e olhar para esta vasta terra brasilis, entendendo que sempre há uma seleção, ordenamento de quem olha através da lente de um caleidoscópio fragmentário e inconcluso.
Há sempre um recorte oriundo do quadro imagético, seleção, escolha daquele que olha ou edita, recompõe uma sensação materializada em imagens que instigam os sentidos daquela pessoa que vê.
Eu vi um país na tevê e nas páginas de revistas ilustradas, cruzando estradas e nas histórias que não foram ainda contadas, pois ultrapassam as palavras, então são inventadas em um quadro, por vezes mágico, ora assustador, suspensas no tempo. Imagens que mexem com os sentidos, em desnorteio. Coisas que eu não sei dizer nada por dizer, então eu escuto o que as imagens me contam.
Eternamente a saga: o Brazil não conhece o Brasil. Nossos tristes trópicos vivem ainda sob o eco da modernidade jamais superada e da negação de nossas matrizes primeiras, com a importação das ideias e os olhos fechados para tantas questões que pulsam nessa dita democracia; das sociais a ecológica; das múltiplas línguas de um país de grandes sertões e florestas, e pensadores que articulam desde uma educação libertária à construção real de independência do imperialismo. Entre ritos e processos relacionais, a possibilidade de pensar a imagem em um giro que pode sinalizar, mesmo que no diminuto, uma fissura com a colonialidade. Ativar o poder de, por meio de uma reunião de autores e imagens, reutopyzar a percepção do olhar. São diversos corpos e visões, etnias e sistemas de representação que convocamos aqui.
A fotografia brasileira tem operado em distintos campos. Do documental, passando por criações de perspectivas singulares de olhar para a vida, com uma multiplicidade de expressões, do jornalismo até criações que rompem com a ideia de real. A imagem expande-se ao dialogar com as variadas percepções que foram se consolidando no campo da arte. Do retrato à colagem, dos experimentos laboratoriais à animação em vídeo, articulamos nessa exposição diversidades que forjam o imaginário de uma nação. Reunimos expoentes presentes na cultura visual, como o beijo de um casal em uma festa popular por Nair Benedicto, à não menos emblemática obra de Rosangela Rennó elaborada na Eco 92, passando pelas insurgentes fotografias de Danielle Fonseca surfando em um piano na Amazônia. Para além de retratos especiais de ídolos de um país, lançamos o olhar também para o inesperado, o desviante, o ainda pouco conhecido, pulsante nesse complexo caldeirão multicultural que forja essa terra brasilis. Buscamos encontrar um território profundo, feito de chão-vida, em uma mescla-visual, ambiente relacional, com gente, calor, mistura de vários cantos de um Brasil misturado nesta terra nada incógnita.
Em Delírio Tropical apresentamos artistas de todas as regiões do país, de diversas gerações, desde documentaristas a artistas visuais que usam da imagem como elemento decisivo na construção de seus discursos. Ao compreender a imagem em toda a sua potência, cartazes, capas de disco e revistas somam e revelam a diversidade de mídias - como vídeo, pinturas e esculturas - que partem de uma relação com o referente iconográfico.
São mais de 100 artistas que somam seus universos tanto na exposição principal, quanto em seu extravasamento com a mostra de audiovisual que reúne filmes, videoartes e performances orientadas para o vídeo e na série de lambes ao ar livre, que ampliam a reflexão sobre a relação com os diversos territórios que compõem um país por vezes desconhecido. Do rito à dor, de corpes insurgentes ao giro que critica colonialidade, Delírio Tropical ativa, no diálogo, passado e presente diversas esferas entre história e imagem.
OS CURADORES
Orlando Maneschy é artista, professor-pesquisador e curador. Doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Realizou estágio pós-doutoral na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. É professor na Universidade Federal do Pará. É coordenador do grupo de pesquisa Bordas Diluídas: Questões da Espacialidade e da Visualidade na Arte Contemporânea (UFPA/CNPq). É curador da Coleção Amazoniana de Arte da UFPA. Tem participado de diversos projetos, exposições, e foi contemplado com prêmios e bolsas de instituições como Funarte, CNPq e Capes. Seus focos de interesse são a arte brasileira e a museologia.
Keyla Sobral é artista visual, Doutora e Mestre em Artes pela Universidade Federal do Pará. Atua ainda como curadora independente, sendo atual curadora adjunta da Coleção Amazoniana de Arte da UFPA; curadora adjunta do Arte Pará 2019 (Exposição Deslendário Amazônico). Integra as coleções Casa da Cultura da América Latina, Museu de Arte do Rio Grande do Sul, Sesc Nacional, Amazoniana de Arte, Museu Casa das Onze Janelas e Fundo Z. É autora do livro ‘Nunca falei tão sério”, lançado em 2023 pela editora Urutau.
A exposição é realizada pelo Fotofestival SOLAR, em parceria com a Pinacoteca do Ceará, o Instituto Mirante e a Rede Pública de Espaços e Equipamentos Culturais do Estado do Ceará (RECE).
ARTISTAS
Alair Gomes Alexandre Sequeira Alice Yura Aline Motta Allyster Fagundes Ana Matheus Abbade André Felipe Cardoso André Lima André Parente Anna Bella Geiger Anna Maria Maiolino Antonio Guerreiro Aoruaura Araquém Alcântara Armando Queiroz Arthur Scovino Ayrson Heráclito Bauer Sá Bené Fonteles Biarritz Bonikta Caio Reisewitz Cao Guimarães Carlos Vergara Celso Brandão Celso Oliveira Céu Vasconcelos Christus Nóbrega Cildo Meireles Claudia Andujar Dalton Paula Daniel Escobar Danielle Fonseca |
Davi de Jesus do Nascimento Davi Ramos Débora Parisotto Denilson Baniwa Éder Oliveira Edgar Kanaykó Xakriabá Elza Lima Eustáquio Neves Evandro Teixeira Fernanda Magalhães Gabriel Bicho Gal Cipreste & Masina Pinheiro Glenda Beatriz Gustavo Assarian Guy Veloso Hal Wildson Heleno Bernardi Hilda de Paulo Hudinilson Jr. Índigo Braga Jean Petra João Angelini João Castrioto Joaquim Paiva Joelington Rios Jonas Amador Jonathas de Andrade Jorge Bodanzky José Diniz Juliana Notari Karim Aïnouz Keila Sankofa Keyla Sobral |
Kuenan Mayu Labô Young Laryssa Machada Letícia Parente Lia Chaia Lucas Bambozzi Lucas Fontes Lucélia Maciel Lúcia Gomes Luciana Magno Luiz Braga Luiz Fernando Borges da Fonseca Lyz Vedra M4fel MAR + VIN Marcela Campos Marcos Chaves Marise Maués Maureen Bisilliat Mauricio Igor Mayra Rodrigues Miguel Chikaoka Moisés Patrício Nair Benedicto Nau Vegar Nay Jinkss Nazareno Nilmar Lage NoPorn Olinda Yawa Tupinambá Oriana Duarte Pablo Mufarrej Paula Sampaio |
Paula Trojany |
CONSULTORES
Ângela Magalhães e Nadja Peregrino
Dalton Paula
Márcio Harum