COSMOPOLÍTICAS
O Cosmos, segundo o astrônomo Carl Sagan – “tudo o que já foi, tudo o que é e tudo que será”–, precisa, para ser feito, a todo momento ser refeito. É criado, e recriado, a partir de relações. Pura política, onde todo outro, de qualquer espécie ou natureza, deve ser reconhecido como alteridade significativa, pois, de acordo com Humboldt, “tudo é interação e recíproco”.
Reunimos obras de artistas brasileiros que trabalham na fotografia questões em torno da política da natureza em seus mais variados elementos, através dos corpos, das ausências e dos territórios. Cada um(a), à sua maneira, cria formas específicas para por em prática essas composições. A cosmopolítica não tem a ambição de pacificar; pelo contrário, ela quer tornar toda negociação mais complicada, já que cada vez mais seres precisam ser consultados para a formação de um arranjo conjunto.
A composição dessa densa teia cósmica conta com obras de 12 artistas, incluindo uma dupla e um coletivo, de diferentes partes do país, com trajetórias e histórias particulares. Baseia-se em três linhas de investigação que se sobrepõem. A primeira, cosmopolíticas da terra, reúne obras que expõem os diferentes acordos de vizinhança, em que os artistas se engajam no caminho para a constituição de um território. Na segunda, cosmopolíticas dos fantasmas, as obras são povoadas pelas sombras dos que não têm, não podem ter ou não querem ter voz política, mas desafiam a razão por, ainda assim, insistirem em compor a paisagem. Já em cosmopolíticas dos corpos, as obras mostram como os artistas fazem passar pelo corpo os diversos embates entre os entes humanos, os não humanos e os seus ambientes. Mas as camadas de sentido entre produção, fruição, curadoria e exibição podem fazer com que essas linhas se entrelacem, contaminem-se e se transformem para dar ao público a chance de redescobri-las e reordená-las de acordo com os próprios critérios.
A reunião destes trabalhos e a proximidade que eles estabelecem entre si criam momentos para desacelerar o raciocínio. As imagens nos fazem hesitar para, assim, criar uma sensibilidade distinta em relação aos problemas que nos mobilizam. A ideia de uma cosmopolítica permite manter aberta a questão de quem e o que pode compor um mundo comum.
A cosmopolítica não é uma teoria a ser ilustrada. Trata-se de uma prática a ser vivida, desde a realização de cada trabalho, passando pelo processo de curadoria, a circulação da exposição, a publicação deste livro, as falas que os acompanham e seu contato com o público. Aqui, usamos a forma de uma mostra coletiva para tecer nosso comentário sobre tal complexidade em que nos propomos viver.
Cada trabalho, de cada artista presente, traz-nos estratégias para negociar seu lugar no cenário global, com suas angústias, necessidades e possibilidades discursivas. As negociações, as alianças, as contradições e os fracassos ocorrem em todos esses níveis.
OS ARTISTAS
ARAQUÉM ALCÂNTARA | BÁRBARA LISSA E MARIA VAZ (DUO PAISAGENS MÓVEIS) | BRENO ROTATORI | DENILSON BANIWA | EUSTÁQUIO NEVES | FRANCILINS | GILVAN BARRETO | JULIA BAUMFELD | LUISA DÖRR | PAULO NAZARETH | TUANE EGGERS | SELVAGEM - CICLO DE ESTUDOS
OS CURADORES
João Castilho é artista e trabalha com a fotografia em campo expandido. O fotográfico, na base de seu pensamento artístico, assume a forma de séries, fotoinstalações, colagens, vídeos, esculturas e curadorias.
É doutorando em Artes pela UFMG e mestre pela mesma universidade. Ganhou a Bolsa de Fotografia IMS/Revista ZUM, o Prêmio Funarte de Arte Contemporânea, o Prêmio Marc Ferrez de Fotografia e o Prêmio Fundação Conrado Wessel de Arte, entre outros.
Participou de importantes exposições como Arte, Democracia, Utopia, Museu de Arte do Rio (2018), 10ª Bienal do Mercosul (2015), 19º Bienal de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil (2015), 8ª Bienal Internacional de Curitiba (2013), Elóge du Vertige, Maison Européenne de la Photographie, Paris (2012); e 5ª Biennale de la Photographie et des Arts Visuel de Liège (2010).
Publicou os fotolivros Zoo (2017), Hotel Tropical (2013), Pulsão Escópica (2012), Peso Morto (2010) e Paisagem Submersa (Cosad Naify, 2008).
Pedro David (Santos Dumont, MG - 1977) é jornalista, formado pela Puc-Minas em 2001. Cursou pós graduação em artes plásticas e contemporaneidade na Escola Guignard – UEMG, em 2002.
Dedica-se a interpretar relações entre o homem e seu ambiente, seja natural, rural, ou urbano. Busca, através de figuras de linguagem, como a metáfora e a metonínima, aliar estética, e política para criar diversos formatos de fotografias, vídeos, livros, e esculturas. Sua atuação parte de ambientes pessoais e traslada-se física e conceitualmente por diversas esferas da vida contemporânea.
Publicou os livros Homem Pedra (Origem, 2020), 360 Square Meters (Blue Sky Books, 2015), Fase Catarse (Autor - 2008), O Jardim (Funceb, 2012), Rota Raiz (Tempo D’Imagem, 2013) e Paisagem Submersa (Cosac Naify, 2008).
Participa de coleções e museus, como: Art Museum of the Americas – OAS – EUA; Bibliotèque Nacionale de France – França; Museu de Arte do Rio – MAR – RJ ; Coleção Joaquim Paiva – MAM-Rio; Musée du Quai Branly – França; MAM – SP; Museu Nacional da República – DF.