LIVROS – ESPELHOS E JANELAS DA ALMA
É a primeira vez que o livro de fotografia autoral publicado por mulheres no Brasil tem um destaque no cenário dos eventos de fotografia. Nossa iniciativa foi jogar uma semente para, em pouco tempo, fazer germinar um novo conjunto, mais denso, mais analisado e com um recorte temporal mais amplo. Nesse breve panorama, assumimos nosshomenagem a duas gigantes e pioneiras – artistas referenciais da fotografia brasileira: Maureen Bisilliat e Claudia Andujar.
O marco zero escolhido foi 1969, com a publicação de Maureen Bisilliat denominada A João Guimarães Rosa, um ensaio realizado a partir de fragmentos de textos retirados do livro “Grande Sertão: Veredas”, obra prima da literatura brasileira. Em 1978, fomos supreendidos com a publicação de Yanomami, de Claudia Andujar, que dedicou o livro “à memória de meu pai que morreu em Dachau” e que no subtítulo “Frente ao Eterno – uma vivência entre os índios Yanomami” assume sua história política de preservação do território e da cultura desse povo originário. Ambas registram um Brasil profundo – o sertanejo e o indígena – e desenvolvem um conjunto de fotografias que traz a força e a delicadeza, a elegância e a beleza do povo brasileiro.
A exposição Livros – Espelhos e Janelas da Alma, mostra 46 livros que sintetizam o período. A iniciativa pode parecer meio apressada e é mesmo. O tempo urge e é necessário mostrar que as mulheres fotógrafas se inscrevem na fotografia brasileira com qualidade técnica e estética. Temas e projetos gráficos ousados que denotam toda a desenvoltura diante de tantos desafios. Basta olhar para o período inicial selecionado e comparar com a produção de livros, também diminuta, de fotógrafos. Muitos dedicados ao fotojornalismo e alguns outros à fotografia autoral. Mas, em nenhum momento, encontramos uma exuberância gráfica e fotográfica semelhante a que vemos nos livros de Maureen e Claudia.
O recorte – de 1969 a 2012 – traz o desejo de fazer emergir alguns livros e suas autoras sem a pretensão de esgotar todas as publicações conhecidas e avançar em períodos mais recentes, em que a produção cresceu exponencialmente. O espaço e o tempo limitaram nossa reflexão. Daí a ideia de ser apenas uma semente para novos olhares sobre o assunto.
Susan Sontag, em seu clássico livro On Photography, editado em 1973, afirma ao final do primeiro ensaio: “O mais racional dos estetas do século XIX, Mallarmé, afirmava que tudo que existe no mundo existe para terminar num livro. Hoje em dia, tudo que existe existe para terminar numa fotografia.”. Essa afirmação nos permite uma licença poética: em pleno século XXI, tudo que existe existe para terminar num livro de fotografias.
OS LIVROS
MAUREEN BISILLIAT CLAUDIA ANDUJAR VANIA TOLEDO DULCE SOARES ROSÂNGELA RENNÓ VILMA SLOMP LILY SVERNER NAIR BENEDICTO NANA MORAES ROSA GAUDITANO GILDA MATTAR ANNA MARIANI ELZA LIMA WALDA MARQUES SUELY NASCIMENTO |
PAULA SAMPAIO PAULA SIMAS STEFANIA BRIL ELLA DURST LITA CERQUEIRA CRIS BIERRENBACH ROCHELLE COSTI ROSARY ESTEVES MADALENA SCHWARTZ CLAUDIA JAGUARIBE LUCIA VILLAR GUANAES KITTY PARANAGUÁ HERMINIA DE MELLO NOGUEIRA BORGES REGINA ALVAREZ FIFI TONG ANNA STEWART VERA BARCELLOS RENATA CASTELLO BRANCO |
CURADORIA
Parceria SOLAR / IMAGINÁRIA_
Rubens Fernandes Junior, pesquisador e curador de fotografia. Doutor em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC (2002). Diretor e Professor Titular da Área de Comunicação da Faculdade Armando Alvares Penteado (FAAP).
Foi curador das exposições O Labirinto da Luz – fotografias de Orlando Azevedo, MON, Curitiba, 2022; Um Olhar Moderno, São Paulo, de Theodor Preising, Unibes, São Paulo (2021); O que os Olhos Alcançam, fotografias de Cristiano Mascaro, Sesc Pinheiros, São Paulo (2019); Mosaico do Tempo - 70 anos de fotografia de German Lorca, Itaú Cultural, São Paulo (2017), entre outras.
Recebeu o Prêmio Mérito Cultural na Fotografia, da Rede de Produtores Culturais da Fotografia no Brasil, em 2020; o Prêmio Marc Ferrez de Fotografia, em 2014; Prêmios de melhor exposição/curadoria pela Associação Paulista de Críticos de Arte pelas exposições A(s)simetrias, fotografias de Geraldo de Barros, Galeria Brito Cimino, São Paulo, 2006; e Mario Cravo Neto Fotografias, no Museu de Arte de São Paulo, 1995.
Autor dos livros: Yalenti – fotografias de José Yalenti, Editora Madalena, 2018; Papéis Efêmeros da Fotografia, Editora Tempo D’Imagem, Fortaleza (2015); Geraldo de Barros - Fotoformas e Sobras, Editora Cosac Naify, São Paulo (2006); Labirinto e Identidades – Fotografia Brasileira Contemporânea, Editora Cosac Naify, São Paulo (2003).